Milena era a mais gostosa do escritório. Morena, olhos claros, de um corpo que à cada dia que passava, melhor ficava. Era sonho de consumo da grande maioria dos marmanjos que lá trabalhavam. Os casados babavam. Os solteiros admiravam. Mas ninguém pedia.
Existia uma velha máxima entre os trabalhadores barbudos daquela instituição de que pegar mulher no serviço era trabalho dobrado. Só tinha um pequeno problema: Milena era gentil, simpática, mas não dava mole pra ninguém. E a machalhada seguia no firme propósito de que, se ela desse bola, ninguém pegava. Mentira das boas.
Milena sabia que encantava os homens.
Adorava isso. Levantava seu ego, seu astral. Mas daí a dar mole para eles, era outra história. Não ia se queimar no serviço, logo agora que conseguira um bom cargo, depois de ralar um tempo em outro emprego. Mas o fato de ser idolatrada naquele pequeno espaço a deixava extremamente satisfeita. Chegava sempre de banho tomado, pele fresca, perfume suave, e um sorriso de quebrar encantamento de sapo. Cabelos lisos, bundinha empinada, seios maravilhosamente perfeitos. Qualquer um ficaria louco por ela.
Só um cara no setor não esticava o tapete vermelho para Milena, e ela o odiava por isso. "Esse tal de Roger é um babaca." Disse certa vez às amigas, num happy hour de sexta-feira no Sider Shopping.
E Roger não lhe dava a mínima importância. Roger era um solteirão convicto, mas nunca estava sozinho.
Guerreiro Daileon da noite, era um mulherengo dos mais conhecidos nos principais pontos de Volta Redonda e redondezas. Porém, Roger não era daqueles que se gabava por isso. Era admirado pelos parceiros pelo poder de sedução e convencimento que tinha sobre as mulheres. O que ninguém entendia era porque Roger não estava nem aí para a Milena.
Roger a tratava com indiferença. E
Milena ODIAVA isso. "Quem ele pensa que é ?" dizia. Ao passar um pelo outro pelos corredores do escritório, Milena o via e chegava a evita-lo. Roger, por sua, a cumprimentava. Mas fazia questão de ser seco, sem ser mal-educado. Bom dia, boa tarde. Oi. Olá. Só, só somente só.
Quando estavam os homens na reunião de nóceguismo do café, e Milena passava, Roger dizia para os outros: "Ela não é isso tudo", num tom que ela pudesse ouvir. Milena virava a 1ª esquina das paredes do escritório vermelha de raiva. "E ainda fala mal de mim para os outros !!!"
As amigas de Milena (no fundo satisfeitas) concordavam com ela: "Esse Roger é um escroto." Mas só diziam isso para agrada-la.
Isso ficou bem claro na festa de metas do departamento. Enquanto Milena desfilava seu encanto pelos corredores do salão, sempre simpática e solícita, Roger se debruçou no balcão do bar e ficou observando, com seus olhos de Falcão todo o movimento. As mesmas moçoilas que
falavam mal de Roger eram as que agora desfilavam à sua frente, como uma passarela de bordel, onde ele poderia escolher qualquer uma delas. Tomou uma cerveja e duas tequilas. Avistou Milena.
Milena estava num vestido vermelho vivo, com um penteado tipo coque, que deixava
sua nuca descoberta. Conversava com todos, mas estava sozinha. "Meu noivo não pôde vir", dia a todos. A música começou, e Milena foi dançar. A pista logo ficou cheia, e os ritmos foram sendo descarregados sobre a galera pelo competente DJ que animava a festa. O garçom zigue-zagueava entre os dançarinos da noite servindo bebidas.
A tequila era preferência de todos.
À uma certa altura, o ritmo frenético da pista pulsava. A massa sacudia junta no som eletrônico que parecia fazer parte do corpo. Milena já estava ficando alta para os padrões dela. "Melhor parar.""Melhor lavar e rosto e parar.""Vou ao banheiro.""Nossa, essa tequila deixa a gente meio louca."
Milena saiu da pista em direção ao banheiro. O som em seus ouvidos permanecia batendo. Talvez por isso, não percebeu
estar sendo seguida.
Entrou no banheiro e sentiu a porta fechando mais rápido que o normal atrás de si. Mal teve tempo de se virar. Dois braços fortes a agarraram e ela foi puxada contra um corpo musculoso. Quando conseguiu se situar, olhava nos olhos de Roger. Ele a segurava pela cintura e por trás dos ombros, puxando-a contra si. Mas não a beijou. Encarava-a sério. "O que você está fazendo aqui ? Você é louco ? Me larga agora, senão eu vou gritar !!!" disse ela,
começando a se debater.
Era a senha: Roger se debruçou sobre o pescoço de Milena, beijando e mordiscando. Milena gritava, mas Roger não a largava. Foi empurrando Milena até uma das portas dos sanitários. Quando Roger fez um sinal para ela ficar quieta, surpreendentemente ela se calou. E o beijou. O beijo mais gostoso de sua vida. Aquele homem a fizera deseja-lo, num misto de ódio e amor. Enquanto se beijavam, Roger já apalpava suas nádegas, e como se fosse um polvo cheio de tentáculos, seus braços rapidamente
despiram Milena. O espaço apertado e o forte cheiro de banheiro feminino não os impediu de transar ali mesmo. Primeiro, Milena entrelaçou suas pernas sobre Roger, que, de pé, a penetrava furiosamente. Depois, Roger a colocou apoiada na parede com o derrier para cima, e como um cavalo selvagem cruzando com sua égua no cio, os dois gozaram loucamente.
Milena se sentiu frágil. Não entendeu o que aconteceu, mas não queria largar mais aquele homem. Roger, dessa vez, estava amável e solícito como nunca. Abraçou-a junto seu peito, acariciou seus cabelos, puxou seu queijo e a beijou carinhosamente.
Saíram escondidos do banheiro, e foram para o carro dele. Milena não se agüentava mais, precisava esclarecer aquela dúvida. Antes mesmo de dar a partida no carro, Roger ouviu a pergunta:
"Mas Roger, porquê você me tratava como se eu nem existisse ? E agora, assim, sem mais nem menos, você...?!?"
"Simples, cara Milena: seu eu ficasse atrás de você como os outros, ou demonstrasse qualquer interesse, eu seria apenas mais um. Como eu te ignorei, não te dei importância e nem a menor bola pra você,
despertei seu interesse. Mas valeu à pena, né ?"
Vivendo e aprendendo...